quinta-feira, 7 de outubro de 2010

PONTO DE VISTA



FORMAÇÃO PROFISSIONAL, TRABALHO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE.

Refletir acerca dessa temática leva a conclusão da necessidade de promover mudanças no âmbito da formação profissional e do trabalho na área de saúde, a fim de construir novos perfis profissionais mais comprometidos com o Sistema Único de Saúde e com a sociedade.

Esse processo de mudança deverá integrar instituições de ensino, instituições de serviço e a comunidade. E deverá refletir nos campos da formação, do serviço, das práticas de atenção, da gestão e do controle social do SUS.

 No âmbito da formação o que se observa é a necessidade de formar profissionais implicados com a organização da gestão setorial, os sistemas de estruturação dos processos de trabalho e o controle social. Ao passo que, no âmbito do trabalho a necessidade é de implicar profissionais para a transformação de suas práticas através da reflexão crítica dos processos de trabalho.

O Sistema Único de Saúde enfrenta o desafio de efetivar uma política pública para a formação profissional em saúde tal qual prevê a Constituição Federal. O SUS deve alimentar os processos de mudança na graduação, residências, pós-graduações e ensino técnico, além de alimentar os processos de mudança no âmbito da educação no trabalho. Nesse sentido, algumas iniciativas já foram tomadas, no entanto, espera-se mais.

As instituições formadoras devem comprometer seus projetos político-pedagógicos com o fortalecimento e efetivação do SUS. Uma formação que ultrapasse a lógica do domínio técnico-científico, que seja capaz de levar os sujeitos a desenvolverem habilidades que atendam às reais necessidades de saúde da população, produzam um cuidado qualificado no plano individual e coletivo e ampliem os espaços de discussão crítica das práticas vigentes nos espaços de produção do cuidado é o que se espera.

No entanto, para que haja uma efetiva mudança nos perfis profissionais, é fundamental a articulação intensa entre o mundo do ensino, o mundo do trabalho e a comunidade. A integração ensino-serviço-comunidade deve ser capaz de orientar novos currículos que correspondam á construção do SUS que queremos, com processos de trabalho multiprofissionais e transdisciplinares, ancorados na clínica ampliada, com responsabilização da gestão e fortalecimento da capacidade decisória do cidadão.

Colocando o cotidiano da formação e do trabalho em análise, a educação permanente aparece como um vetor imprescindível de mudanças. Isso por que ela é um ato político de defesa do trabalho no SUS. Seduz trabalhadores, estudantes e docentes à construção de processos vivos de gestão participativa, de espaços coletivos de reflexão e avaliação dos processos produzidos no cotidiano e enxerga o SUS como lugar privilegiado para o ensino e a aprendizagem por ser rico de ação criativa dos trabalhadores e usuários.

A educação permanente é aprendizagem no trabalho, uma prática de ensino-aprendizagem que se dá através da problematização dos processos de trabalho. Seu objetivo é a transformação das práticas profissionais. Ela permite a auto-análise e auto-gestão dos processos de produção do cuidado e está ligada à formação de perfis profissionais e de serviços implicados com os princípios constitucionais do SUS.

Ressalta-se que para promover mudanças nos processos de trabalho e nas práticas assistenciais vigentes a educação que pensa o trabalho mostra-se mais efetiva que a prescrição de habilidades e comportamentos. Aqui o que é sugerido é que a idéia de recursos humanos seja substituída pela lógica dos atores sociais capazes de problematizar e mudar seus processos de trabalho numa aprendizagem significativa.

Remetendo à dimensão técno-assistencial em saúde, esse processo de mudanças que aqui se fala, deve levar os sujeitos em situação a problematizarem acerca das combinações tecnológicas dispostas no meio do trabalho, observando que a produção do cuidado opera muito além das tecnologias de alta densidade instaladas.

O que se espera com isso é reconfigurar um processo de produção do cuidado que observe a capacidade criativa, a ação multiprofissional, que seja centrado preferencialmente em tecnologias relacionais, capazes de produzir um cuidado estruturado por projetos terapêuticos centrados nas necessidades dos usuários, num caráter longitudinal e com vistas à integralidade, indo de contrário ao movimento de incorporação de tecnologias duras, muitas vezes desnecessário.

No campo da participação da comunidade, espera-se que profissionais e estudantes da área da saúde sejam atores sociais capazes de promover o empoderamento dos sujeitos e de atuar na construção de canais de participação da comunidade nos processos de tomada de decisão no setor saúde. Visto que, quanto maior a capacidade dos profissionais de estimular e construir possibilidades de participação dos usuários no processo de decisão no setor saúde, maior deverá ser a participação dos usuários nessas questões.

Nesse sentido, remeter ao tema “Formação Profissional, Trabalho e Educação Permanente em Saúde” significa remeter a um processo permeado pela implicação, desconforto com o cotidiano, insatisfação e ruptura com o instituído, criatividade, experimentação e desafios com a finalidade de mudança das práticas instituídas no âmbito do Sistema Único de Saúde.

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